Ela soltou o cabelo. Finalmente livre! Caminhava com
leveza e delicadeza enquanto sacudia o cabelo longo e vermelho aos ares. Batia
um ventinho gelado em sua pele, mas ela pouco se importava. O vento gelado
significava a liberdade que ela tanta queria: finalmente havia saído da
academia. Parecia que ela estava em um mundo perfeito de algum musical, e como
todo musical, tinha música. Só que no seu caso era a do seu celular.
Balançou sua mochila até achar o aparelho. Deu uma
olhada na tela e atendeu:
-Fala ai ô bobão.
-Mônica?
-O-oi tia! Tudo bem?!
-Comigo sim, mas, com o Eduardo... Ele sofreu um
acidente.
-O QUE? - Escutar essa frase da mãe de Eduardo foi um
choque - Ele está bem?
-Está sim querida. Não foi nada assim sério. Ele
estava andando na rua mais cedo quando um carro invadiu a calçada e o pegou.
Ele apenas fraturou a Fíbula e teve alguns arranhões.
-Mas, ele está bem agora?
-Ele fazendo mais alguns exames. Só para checar se está
tudo bem mesmo. Amanhã ou depois ele já deve ser liberado.
-Mas ele está internado?
-Está sim querida. Alias, estou apenas te ligando por
que aparentemente vocês iriam sair mais tarde. Acho que ele odiaria te deixar
esperando.
-Sim. Ele é muito pontual. Obrigada por me avisar. Eu
posso ir visitá-lo?
-Acho que não será necessário.
-Eu insisto.
-Acho que você sabe onde encontra-lo então.
-Sei sim.
-Quarto 345b.
-Em algumas horas estarei ai.
-Eu tenho certeza que ele ficará muito feliz em te
ver, Mônica.
-Espero. Obrigada por me avisar.
-Como lhe disse, apenas não gostaria que ele lhe
deixasse esperando.
-Agradecida.
-Passar bem.
-Igualmente. - E assim, desligou a ligação. Como
aquela mulher conseguia ser tão insuportável e antipática? E como Eduardo era
tão doce sendo filho daquela megera? Ela fazia Mônica querer voltar ao sétimo
ano, idade onde todas as crianças são insuportáveis. Tudo bem, ligar para
Mônica havia sido gentil, mas, ligar só por que ambos tinham marcado de sair
juntos e ignorar totalmente o fato dela ser a melhor amiga dele era algo rude.
***
Eduardo estava acordado e era isso que importava.
Havia tido uns sonhos estranhos e considerando os últimos ocorridos, era muito
bom estar vivo. Mas ele só queria saber disso, não queria ele realmente
acordar. Até que começou escutar algumas vozes por perto. Ai ele realmente
tinha motivo para acordar. Principalmente por que eram duas vozes femininas
muito familiares. Ele abriu os olhos e, com a vista embaçada, viu duas mulheres
paradas perto do pé da sua cama: uma era um bocado baixa e tinha cabelos encaracolados
assim como os seus, tinha uma expressão séria em seu rosto e um
olhar preocupado. Logo reconheceu a mulher sendo sua mãe. Ao seu lado,
tinha uma moça que era alta e com um enorme cabelo vermelho tingido, com aquele
cabelão só poderia ser Mônica.
-O-oi - disse ele ainda lento.
-Você acordou meu filho! Eu estava tão preocupada que
você não acordava! - disse a mãe dirigindo-se para o lado do filho.
-Eu só estou um pouco cansado.
-Eu sei querido. - Disse ela dando um sorriso sincero
enquanto ele a olhava nos olhos
-Mãe, por que você não vai comer alguma coisa?
-Eu estou bem. Posso ficar com você o tempo que
precisar.
-Então por que não vai andar um pouco? Ou talvez fumar
um pouco?
-Você costuma odiar que eu fume.
-É tudo diferente agora. Mãe são cinco minutos. E,
aliás, eu tenho Mônica aqui comigo. Nada de ruim vai acontecer. - A mulher
engoliu as palavras do filho com desgosto. Transformou o olhar
de preocupação em olhar de desprezo e seguiu em direção a porta.
-Eu tenho que dar notícias suas ao seu pai - E assim
deixou o quarto.
-É impressionante que nem quando você está em uma cama
de hospital ela me trata bem. - disse Mônica rindo e se aproximando dele - E
então, como você está se sentindo Eduardo?
-Chocado. Você me chamou pelo meu nome inteiro.
-Bobo - risos- Como você se sente?
-É estranho. Pelo menos até agora. É estranho me dar conta
que eu machuquei a perna.
-Então por que você está aqui?
-Posso ter batido a cabeça. Mas acho que só.
-Você sofreu alguns arranhões também.
-Eu vou ficar bem Mô - disse ele pegando em suas mãos
- Eu prometo.
-Eu fiquei com tanto medo de nunca mais te ver.
-Mas eu estou aqui, não estou?
-Fico feliz Eduardo - sorriu.
-Você me chamou de Eduardo duas vezes hoje.
Definitivamente quem bateu a cabeça foi você - risos. E o momento foi interrompido
pela checada da enfermeira que estava abrindo um sorriso enorme -E vejamos se
não é o tal Eduardo! - risos - Seu irmão já ligou tantas vezes mim perguntando
se eu tinha notícias suas, que decidi eu mesma cuidar de você!
-Interessante - disse ele com expressão de certo
desgosto.
-Não fique assim, Dudu. Ele está se esforçando.
-Preferia que ele não fizesse isso.
-Então mocinhos - disse a enfermeira cheia de
empolgação - acho melhor você se sentar para lá mocinha. Vou ter que checar os
curativos dele.
-Tudo bem. Sem problemas. - Disse ela dirigindo-se a
uma poltrona no canto do quarto.
-O nome dela é Mônica.
-Mônica?! Nome bonito. Minha filha está grávida e a
filha dela se chamará Mônica.
-Quando nasce?
-Mês que vem.
-Avó de primeira viagem?
-Não - risos - Mas, minha outra filha mora do outro
lado do país... Então eu pouco vejo meu menino. Por isso estou particularmente
animada com o nascimento da Mônica.
-Com certeza a senhora vai se divertir com uma Mônica.
Somos imprevisíveis.
-Ela vai te enlouquecer, mas é por um bom motivo.
-Eduardo, preciso que você tire a camisa para eu ver
como está o curativo do ombro e do peito - Com uma cara de desgosto,
Eduardo movimentou o braço para tirar a camisa e mesmo em meio a silenciosos
gemidos de dor, tirou a camisa basicamente sem ajuda.
-Você machucou o peito e o ombro?
-E um pouco o braço. Mas nada sério Mô.
-Por que você não me disse antes?
-Para evitar que você ficasse branca e em choque como
você está agora. Eu vou ficar bem.
-Mas é claro que vai! Mônica querida, eu já vi casos
muito piores do que o dele se recuperarem cem por cento... - suspiro - Ai, doce
paixão da adolescência.
-Nós não estamos apaixonados. - disse ela de prontidão.
-Nós não somos nem namorados.
-Para dois amigos, vocês tem uma química muito boa.
-Nos completamos bem.
-Então continuem se completando bem enquanto vou ali
fora pegar um esparadrapo – E assim que a enfermeira saiu do quarto, Mônica se
aproximou de Eduardo e disse:
- Nossa Eduardo, você está... Gostoso.
-Eu não estou, eu sou. – risos.
-Ano passado nós fomos a praia e você não era assim.
-Vê se não baba
tá gata?
-Haha.
-Não deixa nada a desejar?
-Absolutamente não.
-Então está tudo ótimo. Quero dizer, eu sou ótimo -
risos.
-Você é tão ótimo Eduardo que vou querer manter
contato com a sua pele sempre que possível.
-Manter contato com a minha pele?
-Você sabe o que quero dizer.
-Mas claro que eu sei gata. E vou adorar manter-me em
contato com a sua pele branquela.
-Por que você sempre tem que quebrar o clima?
-Você sabe que quando eu fico nervoso, não penso no
que falo.
-E por que você estaria nervoso agora?
-De manhã, eu achei que fosse morrer. Agora à tarde,
você vem até aqui e começa com papo de "manter contato com a minha
pele" Se eu não estivesse no hospital eu provavelmente já teria tido uma
ereção!
-Você é um pervertido.
-Não mais do que você.
-Você é muito infantil, sabia disso Eduardo?
-Crianças não falam exatamente sobre ereção Mônica.
-Enfim! Eu só estou feliz que você esteja bem.
-Eu também.
-Está feliz que você está bem.
-Não, estou feliz por que você está feliz.
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